02/02/2008

O programa de Kronstadt

Marinheiros de Kronstadt sendo "abatidos como perdizes",
enquanto a camada de gelo se desfaz e os corpos atolam na água gelada


Reproduzimos abaixo, na íntegra, o programa de reivindicações da insurreição de Kronstadt, em 1921, contra a ditadura bolchevique. Adotada em 28 de fevereiro, pelos marinheiros do navio de guerra 'Petropavlovsk', foi aceita, por tod@s @s proletári@s, marinheiros e soldados de Kronstadt. Sua atualidade é imensa. Uma leitura atenciosa indica que, em seu centro, está a luta contra a hierarquia estatal e o trabalho assalariado. Viva os marinheiros de Krontadt! Abaixo o Estado, o trabalho assalariado e a impostura bolchevique!



Depois de ter ouvido os delegados do encontro geral da tripulação dos navios reportarem a situação em Petrogrado, esta assembléia toma as seguintes decisões:


1. Vendo que os atuais sovietes não expressam os desejos dos operários e camponeses, organizar imediatamente re-eleições para os sovietes, com voto secreto, e cuidando para organizar a propaganda eleitoral livre para todos os operários e camponeses.


2. Garantir liberdade de expressão e de imprensa para os operários e camponeses, para os anarquistas e os partidos socialistas de esquerda.
3. Garantir liberdade de assembléia para sindicatos operários e organizações camponesas.

4. Convocar uma Conferência não-partidária de Operários, Soldados do Exército Vermelho e Marinheiros de Petrogrado, Kronstadt e da província de Petrogrado, anterior a 10 de Março de 1921.

5. Libertar todos os prisioneiros políticos de partidos socialistas, assim como todos os operários, camponeses, soldados e marinheiros presos por sua conexão com os movimentos operários e camponeses.

6. Eleger uma comissão para rever os casos dos que estão presos em campos de concentração.

7. Abolir os comissários políticos, porque nenhum partido deve ter privilégios para a propagação de suas idéias ou receber apoio financeiro do governo. Em seu lugar, devem-se estabelecer comissões educacionais e culturais, localmente eleitas e financiadas pelo governo.

8. Abolir imediatamente toda 'Zagryaditelniye otryadi'.

9. Igualar todas as rações de todos que trabalham, com exceção dos empregados em profissões nocivas à saúde.

10. Abolir todos os destacamentos militares comunistas em todas as fileiras do exército, assim como as guardas comunistas mantidas nos moinhos e fábricas. Tais guardas ou destacamentos militares devem ser consideradas necessárias, nas fileiras do exército e nas fábricas, quando designadas de acordo com o julgamento dos trabalhadores.

11. Dar aos camponeses total liberdade de ação em suas terras e também do direito de manter o gado em condições de que possam manejá-lo por seus próprios meios; ou seja, sem empregar trabalho assalariado.

12. Solicitar, em todas as forças armadas, assim como aos nossos companheiros militares de carreira, a concordância com nossas resoluções.

13. Demandar que a imprensa dê ampla publicidade de nossas resoluções.

14. Indicar uma comissão itinerária de controle.

15. Permitir a produção artesanal livre, desde que não empregue trabalho assalariado.



12/01/2008

Tirem as patas de sobre Romain! Não deixemos que esses cães nos levem das praças às prisões!

Na próxima quinta-feira (17/01), o companheiro Romain Dunand comparecerá a uma corte judiciária em Paris, para responder a processo em que é acusado de "ultraje à autoridade pública". Trata-se de um processo, movido pelo próprio Sarkozy, quando ministro do interior, por haver Roman dito, em nome da CNT-Jura, que a política sarkozysta é vichysta, por haver ele exigido o fim dos "campos de retenção" e das expulsões dos migrantes sem documentos, e tudo isso por ocasião da campanha de solidariedade ao compa Florimond Guimar, professor ativista da rede Educação sem fronteiras, por sua vez preso e processado em 2006 - mas julgado e absolvido em dezembro último - por lutar contra a expulsão, da França, de um migrante sem documentos, pai de dois alunos seus.
Que Sarkozy seja vichysta, prova-o ele mesmo, com seus "campos de retenção". Quanto ao "ultraje à autoridade pública", sejamos francos. Na verdade, este compa não chegou a ultrajar autoridade nenhuma, ao expressar sua solidariedade a Florimond e caracterizar muito bem a política sarkozysta-vichysta; contudo, que na França a autoridade esteja ultrajada, mostram-no por seu lado as lutas dos debaixo, desde os incendiários de carro nas banlieues aos grevistas radicais no último novembro. Data venia, senhores do mundo, o respeito à autoridade está ferida de morte, e este não é um crime particular de Romain! O que está aí em questão é, tal como ocorre às/aos 25 companheir@s de Gênova, a criminalização da contestação social, ou seja, a perseguição pelo Estado àquelas e àqueles que lutam contra o mercado e seu sistema de hierarquias.
Sarkozy é vichysta! Todo Estado é vichysta!
Solidariedade ao companheiro Romain!
Solidariedade às/aos 25 de Gênova e fim de todos os processos aos participantes das manifestações de julho de 2001!

02/01/2008

Saques Natalinos

Nos dias de dezembro que precedem o Natal o domínio autocrático da economia mercantil reina plenamente nos centros comerciais e nos shopping centers. Sem se importar com as toneladas de lixo produzidas, ou com a irracionalidade do ato consumista, as famílias afluem às lojas a procura da melhor promoção e da mercadoria que mais fará bonito na noite natalina. A cada ano cresce esse espetáculo protagonizado por vendedores e clientes. As vendas crescem, mesmo sendo tão pouco o que os salários permitem comprar.
Nesse ano de 2007, em Fortaleza (CE, Brasil), quando multidões circulavam pelas ruas com suas sacolas e calos nos pés, algumas lojas foram saqueadas e um grande medo provocou tumulto. Corre-corre e portas fechadas às pressas foi o sinal para que a polícia se apresentasse em demonstração de força. Alguns boatos falam em dois bandidos abatidos pela polícia, além de uma criança morta pisoteada e uma idosa que faleceu de ataque cardíaco.
A expressão criada para designar a ação dos saques já é, por si, criminalizadora: arrastão! Após dois desses “arrastões” terem acontecido na tarde do sábado, 22 de dezembro (logo no dia mais esperado do ano pelos comerciantes!), o centro de Fortaleza foi tomado pelos carros das tropas de choque, com suas armas pesadas e cães treinados. Pelo que se alega, a polícia fez-se ativa para o restabelecimento da ordem e para que os cidadãos não permanecessem expostos aos perigos dos vândalos. Mas a expressão nos rostos dos policiais não acusava sentimento de proteção, porém o ódio que julgam dever ter contra todos que desobedecem às leis. Meses antes, a exibição em massa de um filme feito para representar o caráter humano da ação das tropas de choque no Brasil já preparou a opinião de muitos para prontamente absorverem a versão oficial de que os “arrastões” são coisas de ladrões facínoras, com os quais não há diálogo possível, só a dura e incisiva linguagem da brutalidade e da tortura.
Acontece que por trás da cortina de fumaça há fogo, ou seja, o caráter turbulento dos saques que aconteceram em Fortaleza esconde sua natureza de classe. No meio da confusão, quase ninguém se perguntou sobre o que provocou os saques, ou quem, de fato, foram os saqueadores. Na ausência de respostas precisas, imperou o preconceito e a resposta-pronta que imputam a culpa na escória da sociedade, já que assim é mais fácil se inocentar os que verdadeiramente têm culpa. Pois sob aquilo que os governos dizem ser “o problema da violência” há sim a organização sistemática da repressão sobre todo e qualquer ato desobediente às leis do estado.
O que os saques mais expressaram foi que uma parcela dos pobres de Fortaleza – exatamente aquela mais intensamente proletarizada pelo sistema capitalista que, durante a febre de consumo mercantil do Natal, não tem condições de ter acesso sequer aos presentes mais baratos – resolveu não mais esperar obedientemente pela caridade dos cristãos e, por conta própria, apropriou-se das mercadorias expostas nas prateleiras. Não estão elas ali tão perto, ao alcance de tod@s?!
Mas, e se parcelas maiores do proletariado resolvessem fazer o mesmo? Para se prevenirem desse cenário tão ameaçador à ordem do capital as autoridades fazem a sua parte. Nas ruas do centro, a polícia atormenta as multidões, investindo contra inimigos invisíveis, estimulando o medo ao crime. Nos jornais corporativos, por outro lado, a verdade dos fatos não pode ser divulgada porque isso comprometeria demais as vendas, afastando os clientes das lojas. Daí o governador do estado, Cid Gomes, ter desfilado a pé pelas ruas comerciais de Fortaleza no dia seguinte aos saques, procurando passar à população a versão de que tudo não passou de boataria.
No entanto, nada garante que em outra oportunidade o desafio à propriedade privada não venha a ser mais ousado!

17/12/2007

Tod@s estivemos em Gênova! Somos tod@s criminos@s sociais!

"Todo delito e todo crime são de fato sociais. Mas, de todos os crimes sociais, nenhum será considerado pior do que a pretensão impertinente de desejar mudar alguma coisa nesta sociedade, a qual acha ter sido até agora paciente e boa demais; mas que já não aceita ser criticada". (Guy Debord, Comentários sobre a sociedade do espetáculo).
O Estado italiano, cuja justiça demonstrou bem sua competência na luta contra a revolução quando da repressão ao movimento operário revolucionário nos anos 1970, acaba de condenar a um total de 102 anos de prisão a 25 companheir@s que participaram, em Gênova, em julho de 2001, da até agora maior manifestação internacionalista contra o sistema de Estados e as corporações capitalistas que controlam o mercado mundial. Essa manifestação, da qual participaram cerca de 300 mil pessoas, de vários países da Europa e do mundo, será para sempre também lembrada pela forte, massiva e generalizada repressão e pelo assassinato do companheiro Carlo Giuliani (foto à esquerda). Na página do Centro de Mídia Independente, estão todas as informações, desde as manifestações, a repressão, o assassinato de Carlo Giuliani, as campanhas de solidariedade e os processos judiciais < Clique aqui >. Aqui no Brasil, os movimentos e coletivos que participamos ativamente entre 1999 e 2002, do assim chamado "movimento antiglobalização", bem como outros movimentos e coletivos autônomos que surgiram depois, precisamos nos rearticular para fazermos uma campanha de solidariedade a esses companheir@s , assim como antes já o fizemos aos zapatistas e aos povos de Oaxaca.
Liberdade aos condenados e condenadas de Gênova! Abaixo a repressão! Todo Estado é assassino!