12/01/2008

Tirem as patas de sobre Romain! Não deixemos que esses cães nos levem das praças às prisões!

Na próxima quinta-feira (17/01), o companheiro Romain Dunand comparecerá a uma corte judiciária em Paris, para responder a processo em que é acusado de "ultraje à autoridade pública". Trata-se de um processo, movido pelo próprio Sarkozy, quando ministro do interior, por haver Roman dito, em nome da CNT-Jura, que a política sarkozysta é vichysta, por haver ele exigido o fim dos "campos de retenção" e das expulsões dos migrantes sem documentos, e tudo isso por ocasião da campanha de solidariedade ao compa Florimond Guimar, professor ativista da rede Educação sem fronteiras, por sua vez preso e processado em 2006 - mas julgado e absolvido em dezembro último - por lutar contra a expulsão, da França, de um migrante sem documentos, pai de dois alunos seus.
Que Sarkozy seja vichysta, prova-o ele mesmo, com seus "campos de retenção". Quanto ao "ultraje à autoridade pública", sejamos francos. Na verdade, este compa não chegou a ultrajar autoridade nenhuma, ao expressar sua solidariedade a Florimond e caracterizar muito bem a política sarkozysta-vichysta; contudo, que na França a autoridade esteja ultrajada, mostram-no por seu lado as lutas dos debaixo, desde os incendiários de carro nas banlieues aos grevistas radicais no último novembro. Data venia, senhores do mundo, o respeito à autoridade está ferida de morte, e este não é um crime particular de Romain! O que está aí em questão é, tal como ocorre às/aos 25 companheir@s de Gênova, a criminalização da contestação social, ou seja, a perseguição pelo Estado àquelas e àqueles que lutam contra o mercado e seu sistema de hierarquias.
Sarkozy é vichysta! Todo Estado é vichysta!
Solidariedade ao companheiro Romain!
Solidariedade às/aos 25 de Gênova e fim de todos os processos aos participantes das manifestações de julho de 2001!

02/01/2008

Saques Natalinos

Nos dias de dezembro que precedem o Natal o domínio autocrático da economia mercantil reina plenamente nos centros comerciais e nos shopping centers. Sem se importar com as toneladas de lixo produzidas, ou com a irracionalidade do ato consumista, as famílias afluem às lojas a procura da melhor promoção e da mercadoria que mais fará bonito na noite natalina. A cada ano cresce esse espetáculo protagonizado por vendedores e clientes. As vendas crescem, mesmo sendo tão pouco o que os salários permitem comprar.
Nesse ano de 2007, em Fortaleza (CE, Brasil), quando multidões circulavam pelas ruas com suas sacolas e calos nos pés, algumas lojas foram saqueadas e um grande medo provocou tumulto. Corre-corre e portas fechadas às pressas foi o sinal para que a polícia se apresentasse em demonstração de força. Alguns boatos falam em dois bandidos abatidos pela polícia, além de uma criança morta pisoteada e uma idosa que faleceu de ataque cardíaco.
A expressão criada para designar a ação dos saques já é, por si, criminalizadora: arrastão! Após dois desses “arrastões” terem acontecido na tarde do sábado, 22 de dezembro (logo no dia mais esperado do ano pelos comerciantes!), o centro de Fortaleza foi tomado pelos carros das tropas de choque, com suas armas pesadas e cães treinados. Pelo que se alega, a polícia fez-se ativa para o restabelecimento da ordem e para que os cidadãos não permanecessem expostos aos perigos dos vândalos. Mas a expressão nos rostos dos policiais não acusava sentimento de proteção, porém o ódio que julgam dever ter contra todos que desobedecem às leis. Meses antes, a exibição em massa de um filme feito para representar o caráter humano da ação das tropas de choque no Brasil já preparou a opinião de muitos para prontamente absorverem a versão oficial de que os “arrastões” são coisas de ladrões facínoras, com os quais não há diálogo possível, só a dura e incisiva linguagem da brutalidade e da tortura.
Acontece que por trás da cortina de fumaça há fogo, ou seja, o caráter turbulento dos saques que aconteceram em Fortaleza esconde sua natureza de classe. No meio da confusão, quase ninguém se perguntou sobre o que provocou os saques, ou quem, de fato, foram os saqueadores. Na ausência de respostas precisas, imperou o preconceito e a resposta-pronta que imputam a culpa na escória da sociedade, já que assim é mais fácil se inocentar os que verdadeiramente têm culpa. Pois sob aquilo que os governos dizem ser “o problema da violência” há sim a organização sistemática da repressão sobre todo e qualquer ato desobediente às leis do estado.
O que os saques mais expressaram foi que uma parcela dos pobres de Fortaleza – exatamente aquela mais intensamente proletarizada pelo sistema capitalista que, durante a febre de consumo mercantil do Natal, não tem condições de ter acesso sequer aos presentes mais baratos – resolveu não mais esperar obedientemente pela caridade dos cristãos e, por conta própria, apropriou-se das mercadorias expostas nas prateleiras. Não estão elas ali tão perto, ao alcance de tod@s?!
Mas, e se parcelas maiores do proletariado resolvessem fazer o mesmo? Para se prevenirem desse cenário tão ameaçador à ordem do capital as autoridades fazem a sua parte. Nas ruas do centro, a polícia atormenta as multidões, investindo contra inimigos invisíveis, estimulando o medo ao crime. Nos jornais corporativos, por outro lado, a verdade dos fatos não pode ser divulgada porque isso comprometeria demais as vendas, afastando os clientes das lojas. Daí o governador do estado, Cid Gomes, ter desfilado a pé pelas ruas comerciais de Fortaleza no dia seguinte aos saques, procurando passar à população a versão de que tudo não passou de boataria.
No entanto, nada garante que em outra oportunidade o desafio à propriedade privada não venha a ser mais ousado!